Tragédias marcam a pior temporada do esporte a motor na era moderna
Mesmo com o alto padrão de segurança dos tempos atuais, acidentes graves fazem vítimas fatais em diferentes categorias no Brasil e no exterior
Até a década de 1970, a morte era uma incômoda, porém frequente companheira
dos pilotos nas pistas de corrida. A segurança, considerada nos primórdios do
esporte a motor um fator de menor importância, era precária e sucumbia cada vez
mais aos avanços tecnológicos e às crescentes velocidades alcançadas pelos
carros e motos de competição. Uma combinação que provocava um número assustador
de acidentes fatais. Nas últimas décadas, especialmente após a perda de Ayrton
Senna, em 1994, muitas medidas foram tomadas nos circuitos e nos carros para
diminuir esta estatística. Mesmo assim, diversos acontecimentos ao longo da
temporada 2011 provaram que o risco, infelizmente, ainda faz parte do jogo. O
ano ainda não acabou, mas já deixou marcas profundas entre pilotos e fãs do
esporte a motor.
Sustos na pré-temporada
- No estágio em que estamos em relação à segurança de carros e autódromos, o que aconteceu este ano está bem fora da normalidade. Mas, analisados separadamente, em cada caso encontra-se uma causa fortuita. Por exemplo, a batida em "T" no carro do Sondermann, que é um caso inevitável. Já na MotoGP, fatalidade absoluta. Cansamos de ver acidentes daquele tipo sem maiores consequências. No caso da Indy, eu ponho a culpa nos americanos, que fazem um automobilismo diferente do resto do mundo. Botar 34 carros naquela pista oval de 1,5 milha é procurar problema. Este poderia ter sido evitado - analisa o jornalista, que tem 40 anos de experiência na cobertura da Fórmula 1 e de outras categorias do automobilismo mundial.
Acidentes graves também no Motocross
Acidente de Robert Kubica numa prova de rali foi o
primeiro susto do ano (Foto: AP)
Numa época em que são obrigatórios alguns equipamentos como capacetes a prova
de bala, macacões antichama e o hans, uma proteção para o pescoço e a cabeça, os
autódromos também ganharam melhorias nas áreas de escape e nas barreiras de
pneus, entre outros procedimentos. Os carros, tanto em categorias de monopostos
quanto de turismo, também estão mais resistentes aos impactos. Por isso tudo, a
série de graves acidentes desta temporada não condiz com o número médio de
pilotos que perderam a vida ou se machucaram seriamente em treinos e corridas
nos últimos anos.Sustos na pré-temporada
Os principais campeonatos internacionais nem
haviam começado quando uma batida assustou os fãs do piloto Robert Kubica, no
início de fevereiro. Buscando voltar ao ritmo das competições, o polonês sofreu
um sério acidente durante uma prova de rali na Itália, na qual foi atingido por
uma lâmina do guard-rail, que atravessou o carro. O piloto precisou de duas
intervenções cirúrgicas para não perder os movimentos da mão direita, bastante
afetada no choque. Mas a lesão desfalcou a equipe Renault-Lotus no Mundial de
Fórmula 1, e o time não desenvolveu o carro como era esperado. Oito meses
depois, os médicos consideram a recuperação positiva, mas ainda não
há certeza a respeito do retorno de Kubica aos cockpits de um Fórmula 1.
Nos testes de pré-temporada da Stock Car, Xandinho
Negrão capotou em Piracicaba (Foto: Duda Bairros)
No Brasil, o ano também não começou bem. Ainda nos
testes de pré-temporada da Stock Car, no dia 23 de fevereiro, Xandinho Negrão
perdeu os freios no fim da reta do circuito de Piracicaba, interior de São
Paulo. O carro 99 capotou, voou
sobre o alambrado e o piloto quebrou a clavícula. A pista, de pouco mais de
dois quilômetros de extensão, foi bastante criticada por alguns competidores,
que a consideraram inadequada para receber carros tão potentes quanto os da
Stock.
Mas estrutura nem sempre é o bastante. Tanto que o tradicional autódromo de
Interlagos, em São Paulo, que todos os anos recebe a Fórmula 1, fez três vítimas
fatais em menos de dois meses. A primeira foi o fotógrafo João Lisboa, no dia 24
de fevereiro. Especializado em motociclismo, ele sofreu uma série de hemorragias
que o levaram à morte após bater na Curva do Café – a mesma onde Rafael
Sperafico havia perdido a vida em 2007, na Stock Light. O acidente ocorreu
durante um track-day, evento no qual a pista é alugada para que os donos de
veículos esportivos experimentem o potencial de suas máquinas.
Acidente fatal de Gustavo Sondermann na divisão de
acesso da Stock Car em SP (Foto: Vanderley Soares)
Semanas depois, no dia 4 de abril, um acidente
múltiplo na mesma curva matou
o piloto Gustavo Sondermann, de 29 anos, durante a primeira etapa da divisão
de acesso da Stock Car. Chovia muito no momento da batida, que também causou
fraturas em outro competidor, Pedro Boesel. O episódio estimulou a criação de
uma comissão de segurança na categoria. Porém, no aspecto emocional, a
comunidade do automobilismo sofreu outro baque logo no fim de semana seguinte,
quando Paulo Kunze, de 67 anos, sofreu
um traumatismo craniano que o levaria à morte dias depois. O piloto capotou
seu carro na Curva do Sol em uma etapa da Stock Paulista, campeonato regional
que utiliza antigos chassis da categoria.
A sequência de acidentes na pista de Interlagos
também mobilizou os administradores do autódromo paulistano, que construíram uma
chicane na Curva do Café, inaugurada em agosto, quando a Stock Car realizou a
Corrida do Milhão. Uma prova que marcou a volta às pistas do piloto Tuka Rocha,
que saiu praticamente inteiro de um incêndio de grandes proporções em seu carro
logo na segunda volta da etapa anterior, no Rio de Janeiro. Com o cockpit tomado
pelas chamas, o paulista de 28 anos salvou
a própria vida ao se jogar do carro em movimento. O fogo começou no sistema
de escapamento.
Tragédias nas categorias top
Não foi apenas nas pistas brasileiras que o perigo
rondou os competidores. No dia 16 de outubro, o que era para ser uma corrida
festiva da Fórmula Indy em Las Vegas, nos Estados Unidos, acabou em tragédia. Na
prova de encerramento da temporada, que marcava a despedida dos chassis usados
pela categoria desde 2003, havia até um prêmio de US$ 5 milhões (cerca de R$ 8,8
milhões) para o caso de vitória do inglês Dan Wheldon, convidado pela
organização. Mas a criticada opção de colocar 34 carros numa pista de uma milha
e meia de extensão e 20 graus de inclinação transformou-se num acidente de
grandes proporções, que envolveu 15 pilotos. Um cenário semelhante a um campo de
batalha, que
matou justamente o grande astro da prova, campeão da Indy em 2005 e vencedor
de duas edições das 500 Milhas de Indianápolis. Wheldon tinha 33 anos.
Batida envolvendo vários carros em Las vegas causou a morte
de Dan Wheldon na Indy (Foto: Getty Images)
Bastou uma semana para que o mundo do esporte a
motor sofresse mais uma grande perda, desta vez sobre duas rodas. Na segunda
volta do GP da Malásia, penúltima etapa da MotoGP, o italiano Marco
Simoncelli perdeu o controle de sua moto e acabou atropelado por Colin
Edwards e Valentino Rossi, que vinham em sua cola e nada puderam fazer para
evitar o choque. Com lesões graves no tórax, pescoço e na cabeça, o piloto de 24
anos não resistiu e morreu ainda no centro médico do circuito. Após o acidente,
a direção do Mundial de Motovelocidade optou pelo cancelamento da prova.
O comentarista da TV Globo, Reginaldo Leme, considera que diversos fatores
pesaram para que o esporte a motor vivesse uma temporada tão difícil.- No estágio em que estamos em relação à segurança de carros e autódromos, o que aconteceu este ano está bem fora da normalidade. Mas, analisados separadamente, em cada caso encontra-se uma causa fortuita. Por exemplo, a batida em "T" no carro do Sondermann, que é um caso inevitável. Já na MotoGP, fatalidade absoluta. Cansamos de ver acidentes daquele tipo sem maiores consequências. No caso da Indy, eu ponho a culpa nos americanos, que fazem um automobilismo diferente do resto do mundo. Botar 34 carros naquela pista oval de 1,5 milha é procurar problema. Este poderia ter sido evitado - analisa o jornalista, que tem 40 anos de experiência na cobertura da Fórmula 1 e de outras categorias do automobilismo mundial.
Acidentes graves também no Motocross
Até no segmento dos esportes radicais, a temporada
2011 não tem sido das mais tranquilas para as competições motorizadas. Durante a
disputa do Mundial de Motocross em abril, na Bulgária, o goiano Wellington
Garcia quase
perdeu a vida depois de uma queda. O piloto de 22 anos, campeão brasileiro
da modalidade, ficou 39 dias internado num hospital da capital búlgara – período
no qual sofreu seis cirurgias, levou mais de 100 pontos, perdeu cerca de 20 kg e
teve alguns órgãos internos parcialmente comprometidos. Mas Wellington não foi o
único brasileiro a sofrer um grave acidente nas pistas de Motocross. Em
setembro, Swian Zanoni, uma das grandes promessas do país na modalidade, morreu
ao chocar-se com uma árvore durante uma exibição em Minas Gerais. Ele tinha
23 anos.
Promessa do Motocross, Swian Zanoni perdeu a vida durante
exibição em MG (Foto: Site oficial Swian Zanoni)
É triste ver fotos de assidentes!
ResponderExcluirParabéns pelo blog