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quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Tragédias que marcaram este ano,nos Carros e nas Motos

Tragédias marcam a pior temporada do esporte a motor na era moderna

Mesmo com o alto padrão de segurança dos tempos atuais, acidentes graves fazem vítimas fatais em diferentes categorias no Brasil e no exterior



Até a década de 1970, a morte era uma incômoda, porém frequente companheira dos pilotos nas pistas de corrida. A segurança, considerada nos primórdios do esporte a motor um fator de menor importância, era precária e sucumbia cada vez mais aos avanços tecnológicos e às crescentes velocidades alcançadas pelos carros e motos de competição. Uma combinação que provocava um número assustador de acidentes fatais. Nas últimas décadas, especialmente após a perda de Ayrton Senna, em 1994, muitas medidas foram tomadas nos circuitos e nos carros para diminuir esta estatística. Mesmo assim, diversos acontecimentos ao longo da temporada 2011 provaram que o risco, infelizmente, ainda faz parte do jogo. O ano ainda não acabou, mas já deixou marcas profundas entre pilotos e fãs do esporte a motor.
kubica acidente carro  resgate fórmula 1 (Foto: AP)Acidente de Robert Kubica numa prova de rali foi o primeiro susto do ano (Foto: AP)
Numa época em que são obrigatórios alguns equipamentos como capacetes a prova de bala, macacões antichama e o hans, uma proteção para o pescoço e a cabeça, os autódromos também ganharam melhorias nas áreas de escape e nas barreiras de pneus, entre outros procedimentos. Os carros, tanto em categorias de monopostos quanto de turismo, também estão mais resistentes aos impactos. Por isso tudo, a série de graves acidentes desta temporada não condiz com o número médio de pilotos que perderam a vida ou se machucaram seriamente em treinos e corridas nos últimos anos.
Sustos na pré-temporada
Os principais campeonatos internacionais nem haviam começado quando uma batida assustou os fãs do piloto Robert Kubica, no início de fevereiro. Buscando voltar ao ritmo das competições, o polonês sofreu um sério acidente durante uma prova de rali na Itália, na qual foi atingido por uma lâmina do guard-rail, que atravessou o carro. O piloto precisou de duas intervenções cirúrgicas para não perder os movimentos da mão direita, bastante afetada no choque. Mas a lesão desfalcou a equipe Renault-Lotus no Mundial de Fórmula 1, e o time não desenvolveu o carro como era esperado. Oito meses depois, os médicos consideram a recuperação positiva, mas ainda não há certeza a respeito do retorno de Kubica aos cockpits de um Fórmula 1.
Stock Car: carro de Xandinho Negrão após o acidente (Foto: Duda Bairros/Divulgação)Nos testes de pré-temporada da Stock Car, Xandinho Negrão capotou em Piracicaba (Foto: Duda Bairros)
No Brasil, o ano também não começou bem. Ainda nos testes de pré-temporada da Stock Car, no dia 23 de fevereiro, Xandinho Negrão perdeu os freios no fim da reta do circuito de Piracicaba, interior de São Paulo. O carro 99 capotou, voou sobre o alambrado e o piloto quebrou a clavícula. A pista, de pouco mais de dois quilômetros de extensão, foi bastante criticada por alguns competidores, que a consideraram inadequada para receber carros tão potentes quanto os da Stock.
Mas estrutura nem sempre é o bastante. Tanto que o tradicional autódromo de Interlagos, em São Paulo, que todos os anos recebe a Fórmula 1, fez três vítimas fatais em menos de dois meses. A primeira foi o fotógrafo João Lisboa, no dia 24 de fevereiro. Especializado em motociclismo, ele sofreu uma série de hemorragias que o levaram à morte após bater na Curva do Café – a mesma onde Rafael Sperafico havia perdido a vida em 2007, na Stock Light. O acidente ocorreu durante um track-day, evento no qual a pista é alugada para que os donos de veículos esportivos experimentem o potencial de suas máquinas.
Pedro Boesel Gustavo Sondermann acidente (Foto: Vanderley Soares)Acidente fatal de Gustavo Sondermann na divisão de acesso da Stock Car em SP (Foto: Vanderley Soares)
Semanas depois, no dia 4 de abril, um acidente múltiplo na mesma curva matou o piloto Gustavo Sondermann, de 29 anos, durante a primeira etapa da divisão de acesso da Stock Car. Chovia muito no momento da batida, que também causou fraturas em outro competidor, Pedro Boesel. O episódio estimulou a criação de uma comissão de segurança na categoria. Porém, no aspecto emocional, a comunidade do automobilismo sofreu outro baque logo no fim de semana seguinte, quando Paulo Kunze, de 67 anos, sofreu um traumatismo craniano que o levaria à morte dias depois. O piloto capotou seu carro na Curva do Sol em uma etapa da Stock Paulista, campeonato regional que utiliza antigos chassis da categoria.
A sequência de acidentes na pista de Interlagos também mobilizou os administradores do autódromo paulistano, que construíram uma chicane na Curva do Café, inaugurada em agosto, quando a Stock Car realizou a Corrida do Milhão. Uma prova que marcou a volta às pistas do piloto Tuka Rocha, que saiu praticamente inteiro de um incêndio de grandes proporções em seu carro logo na segunda volta da etapa anterior, no Rio de Janeiro. Com o cockpit tomado pelas chamas, o paulista de 28 anos salvou a própria vida ao se jogar do carro em movimento. O fogo começou no sistema de escapamento.
Tragédias nas categorias top
Não foi apenas nas pistas brasileiras que o perigo rondou os competidores. No dia 16 de outubro, o que era para ser uma corrida festiva da Fórmula Indy em Las Vegas, nos Estados Unidos, acabou em tragédia. Na prova de encerramento da temporada, que marcava a despedida dos chassis usados pela categoria desde 2003, havia até um prêmio de US$ 5 milhões (cerca de R$ 8,8 milhões) para o caso de vitória do inglês Dan Wheldon, convidado pela organização. Mas a criticada opção de colocar 34 carros numa pista de uma milha e meia de extensão e 20 graus de inclinação transformou-se num acidente de grandes proporções, que envolveu 15 pilotos. Um cenário semelhante a um campo de batalha, que matou justamente o grande astro da prova, campeão da Indy em 2005 e vencedor de duas edições das 500 Milhas de Indianápolis. Wheldon tinha 33 anos.
Dan Wheldon morte na Indy (Foto: Getty Images)Batida envolvendo vários carros em Las vegas causou a morte de Dan Wheldon na Indy (Foto: Getty Images)
Bastou uma semana para que o mundo do esporte a motor sofresse mais uma grande perda, desta vez sobre duas rodas. Na segunda volta do GP da Malásia, penúltima etapa da MotoGP, o italiano Marco Simoncelli perdeu o controle de sua moto e acabou atropelado por Colin Edwards e Valentino Rossi, que vinham em sua cola e nada puderam fazer para evitar o choque. Com lesões graves no tórax, pescoço e na cabeça, o piloto de 24 anos não resistiu e morreu ainda no centro médico do circuito. Após o acidente, a direção do Mundial de Motovelocidade optou pelo cancelamento da prova.
O comentarista da TV Globo, Reginaldo Leme, considera que diversos fatores pesaram para que o esporte a motor vivesse uma temporada tão difícil.
- No estágio em que estamos em relação à segurança de carros e autódromos, o que aconteceu este ano está bem fora da normalidade. Mas, analisados separadamente, em cada caso encontra-se uma causa fortuita. Por exemplo, a batida em "T" no carro do Sondermann, que é um caso inevitável. Já na MotoGP, fatalidade absoluta. Cansamos de ver acidentes daquele tipo sem maiores consequências. No caso da Indy, eu ponho a culpa nos americanos, que fazem um automobilismo diferente do resto do mundo. Botar 34 carros naquela pista oval de 1,5 milha é procurar problema. Este poderia ter sido evitado - analisa o jornalista, que tem 40 anos de experiência na cobertura da Fórmula 1 e de outras categorias do automobilismo mundial.
Acidentes graves também no Motocross
Até no segmento dos esportes radicais, a temporada 2011 não tem sido das mais tranquilas para as competições motorizadas. Durante a disputa do Mundial de Motocross em abril, na Bulgária, o goiano Wellington Garcia quase perdeu a vida depois de uma queda. O piloto de 22 anos, campeão brasileiro da modalidade, ficou 39 dias internado num hospital da capital búlgara – período no qual sofreu seis cirurgias, levou mais de 100 pontos, perdeu cerca de 20 kg e teve alguns órgãos internos parcialmente comprometidos. Mas Wellington não foi o único brasileiro a sofrer um grave acidente nas pistas de Motocross. Em setembro, Swian Zanoni, uma das grandes promessas do país na modalidade, morreu ao chocar-se com uma árvore durante uma exibição em Minas Gerais. Ele tinha 23 anos.
Piloto Swian Zanoni, morto em acidente (Foto: Site oficial do piloto Swian Zanoni)Promessa do Motocross, Swian Zanoni perdeu a vida durante exibição em MG (Foto: Site oficial Swian Zanoni)

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