Quem nunca sonhou em estar na pele de James Bond? Desde sua primeira aparição, em O Satânico Dr. No (1962), sempre que ele ressurge nas telas o que se vê é um desfile de mulheres estonteantes e carros fora de série – no caso da estreia, a suíça Ursula Andress e o Chevrolet Bel Air conversível. No seleto clube das supermáquinas pilotadas por Bond já foram protagonistas clássicos como o Bentley 4½ Liter Sports Tourer, de Moscou contra 007 (1963), a futurista Lotus Esprit Turbo, de Apenas para Seus Olhos (1981), e a potente BMW Z8, de O Mundo Não É o Bastante (1999). Mas nenhuma marca brilhou mais do que a inglesa Aston Martin, carro “oficial” do agente de Sua Majestade em dez dos 22 filmes da saga. A partir deste mês, seus modelos desembarcam no Brasil, com importação oficial, depois de uma longa espera.

A parceria entre James Bond e a Aston Martin começou em 1959, quando o escritor inglês Ian Flemming trocou o Bentley conversível Mark IV das primeiras histórias (um automóvel que nunca existiu na realidade) por um DB3, de verdade, em Goldfinger, seu sétimo livro. Em 1964, quando a aventura foi levada para as telas, lá estava o agente, então interpretado pelo escocês Sean Connery, ao volante do ainda mais invocado DB5. Cheio de engenhocas, o carro prateado resistiu à primeira aventura e reapareceu no ano seguinte em 007 contra a Chantagem Atômica, marcando o início de uma relação que, com idas e vindas, se estende até hoje [veja abaixo]. A partir deste mês, no showroom da Aston Martin em São Paulo, o admirador da marca e do agente secreto ingleses poderá conferir de perto o DBS de 517 cavalos dirigido por Daniel Craig em Quantum of Solace (2008).
O modelo foi protagonista de uma das mais sensacionais cenas de perseguição da história do cinema. Na sequência filmada no Lago di Garda, na Itália, na qual o Aston de Bond escapa do cerco de um grupo de bandidos que pilotam Alfa 159, foram destruídos nada menos que seis DBS, todos equipados com motor V12. No Brasil, cada um deles custará 1,4 milhão de reais. Também devem estar disponíveis os modelos DB9 (900 000 reais) e Vantage (700 000 reais) nas versões cupê e conversível, estas cerca de 10% mais caras. Até o fim do ano chega o quarto mosqueteiro da marca: o Rapide, recém- lançado modelo esportivo com 5,02 metros de comprimento, quatro portas e motor V12 de 477 cavalos, características que o colocam na briga direta com o Porsche Panamera. Seu preço ainda não foi definido.
NASCE UMA LENDA
A fama de objeto do desejo dos Aston Martin começou bem antes de James Bond popularizar a marca inglesa nas telas. Em 1913, o vendedor Robert Bamford e o mecânico Lionel Martin uniram esforços para construir carros de corrida juntando partes de modelos diferentes, como o motor Coventry Simplex de 1 400 cilindradas com o chassi de um Isotta Fraschini. Quando Bamford deixou a sociedade, uma das pistas em que seus carros dominavam – Aston – foi escolhida por Lionel para juntar-se ao seu sobrenome e batizar a companhia até então sem nome.


Trinta anos mais tarde, o acaso se encarregaria de levar a Aston Martin a mudar de mãos. Em 1947, um classificado discreto no jornal inglês The Times anunciava a venda de “uma montadora high class”. O anúncio atiçou o interesse de David Brown, um milionário fabricante de tratores e máquinas agrícolas. Brown desembolsou 20 000 libras (cerca de 1,5 milhão de reais a preços de hoje) e reestruturou a companhia, não economizando dinheiro para que a Aston Martin se tornasse sinônimo de alguns dos melhores carros esportivos do planeta. Sob o domínio de Brown, suas iniciais (DB) passaram a batizar os carros da marca. O primeiro modelo a tornar-se objeto do desejo foi o DB1, lançado em 1948 com motor de quatro cilindros e que venceria as 24 Horas de Spa. Apesar do início promissor, seriam necessários dez anos até que, enfim, a Aston Martin emplacasse um sucesso. Produzido em 1958, o DB4 era uma máquina com linhas elegantes desenhada em Milão pela Carrozeria Touring, com faróis redondos, larga grelha frontal e motor de seis cilindros em linha. Faltava ainda transformá-la em mito. E é aí que entra Bond, James Bond. Quando o DB5 apareceu nas telas em 007 contra Goldfinger como “o carro” do superagente, a marca logo se converteu em objeto do desejo de playboys e bon-vivants. Do príncipe de Gales ao príncipe da Jordânia, passando pelo ator Peter Sellers, quem podia tinha um Aston na garagem. Ainda mais quando David Brown decidiu equipar seus carros com motores V8 de 345 cavalos capazes de cravar de 0 a 100 km /h em 6,2 segundos. Potência, beleza e um agente britânico com licença para matar no entanto não foram suficientes para salvar a Aston Martin da recessão dos anos 1970. Endividado, David Brown teve de abrir mão da marca. Por 20 anos, a Ford deteve o controle da marca inglesa. Em 2007, afundada em dívidas, a montadora americana se viu obrigada a vendê-la por 480 milhões de euros ao atual proprietário, um fundo de investimento do Kuwait, que por sua vez entregou a gestão técnica a David Richards, ex-piloto e chefe de escuderias como BAR, na F1, e Subaru, nos ralis.
Como se vê, os fãs mais aguerridos podem ficar tranquilos. O carro do agente 007 está em boas mãos.